Rubem Valentim (1922-1991) é uma figura central na arte moderna brasileira, sendo o artista que realizou a mais potente e singular fusão entre a rigorosa geometria da arte concreta e o profundo universo simbólico das religiões de matriz africana, como o Candomblé e a Umbanda. Suas obras não são meras representações; são emblemas, logotipos poéticos e visuais que transformam ferramentas de orixás, símbolos de oferendas e elementos do culto em formas puras, cores vibrantes e estruturas construtivas. Valentim subverteu a estética europeia ao utilizar o idioma da vanguarda modernista (a linha reta, o triângulo, o círculo) para narrar a complexidade e a sabedoria ancestral afro-brasileira.
O valor de sua obra reside nesta invenção: ele criou uma "escrita" visual única, uma riscadura brasileira que é simultaneamente universal em sua forma e intrinsecamente nacional em seu conteúdo mítico. Suas composições, sejam elas pinturas, relevos ou esculturas totêmicas, operam como pontos cantados convertidos em geometria, onde cada forma e cor (o vermelho de Xangô, o azul de Iemanjá, o branco de Oxalá) carrega um significado profundo e ritualístico. Isso eleva suas peças de meras abstrações a Objetos Emblemáticos dotados de força e espiritualidade, colocando-o em diálogo com os grandes construtivistas, mas com uma voz inconfundivelmente afro-atlântica.
Adquirir uma obra de Rubem Valentim significa investir em um marco da descolonização cultural na arte. Suas peças são a manifestação física de um sincretismo estético que é crucial para a identidade brasileira. Elas não apenas enriquecem qualquer acervo com sua beleza formal e vibrante paleta, mas também atuam como verdadeiros ícones de resistência e celebração da cultura afro-brasileira. Estas obras são um convite a contemplar o sagrado através do rigor do moderno, garantindo ao colecionador uma peça de legado histórico, filosófico e artístico.

